Elcimar Moreira da Silva, entrou como ajudante de pedreiro no campus da UFF – Universidade Federal Fluminense – em 2009.
Hoje ele estuda no mesmo local onde ajudou a bater laje na expansão da unidade em Santo Antônio de Pádua, no noroeste fluminense. Cursa o segundo semestre de Física, o que sempre sonhou.
Ele foi levado pelo pai para trabalhar. Elcimar lembra que bateu pedra e encheu os carrinhos de brita e areia por dois dias para ajudar na renda da família.
Os R$ 30 ou R$ 40 que recebia iam para abastecer a despensa vazia da casa onde morava com os pais.
“O ano era 2009 e eu estava me formando no ensino médio. Eu tinha 22 anos. Meu pai era pedreiro e trabalhava em obras, e nessa estavam trabalhando ele, um dos meus irmãos e meu tio. Na hora de bater a laje, eles precisaram de outras pessoas, então chamaram eu e meu irmão”, disse ao UOL.
Ele lembra que chegou a passar mal de tanto calor.
“Foi um sofrimento. Eu e meu irmão, a gente era os menorzinhos ali. Todo mundo —os funcionários que estavam ali— olhava com preconceito porque sabia que a gente não pertencia àquele lugar….Achavam que a gente não ia aguentar aquilo porque o serviço era muito pesado, muito puxado. Mas nós continuamos. Era uma laje enorme, de altura e comprimento”, lembra.
Cotas
Ele passou no Enem em 2018 e viu o sonho se realizar.
“Eu acabei atrasando os estudos e completando o ensino médio um pouco mais tarde do que a maioria. Então eu fui fazer o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. Meu sonho sempre foi fazer Física. Eu queria muito ingressar na universidade, mas achava que não ia conseguir o que eu queria, que era Física. Até pensei em Matemática”, diz.
Agradecido, ele lembra que passou pelo sistema de cotas.
“Eu entrei pelas cotas raciais, mas entraria por nota também, pois tirei nota suficiente para entrar. A nota de corte não era muito alta, não. Acho que só a gente que é meio maluco gosta de Física”, brincou.
Emoção
O primeiro dia de estudo foi uma emoção.
“Quando pisei na UFF pela primeira vez como aluno, eu pensei: ‘Cara, nem parece que foi esse lugar em que eu bati a laje’. Era um sentimento de orgulho muito grande”.
Houve dificuldade no início, mas Elcimar, que está no segundo semestre, foi acolhido pelos colegas de classe.
“No começo eu tive um pouco de dificuldade porque o tempo da universidade e a maneira como o conhecimento é passado não são como no ensino médio. É muito mais corrido, exige mais do aluno e muito mais tempo de estudos. Mas agora eu já me ambientei… encontrei companheirismo dentro da minha sala. Minha turma é muito unida e isso ajudou muito na minha adaptação. Os professores são fora de série.
Orgulho
Hoje Elcimar está desempregado, faz bicos de como pedreiro e aproveita as horas vagas para estudar.
Ele é o orgulho da família, mas lembra que o pai não chegou a ver o sucesso do filho.
“Ele morreu um ano depois de ter me levado para bater a laje. Ele não chegou a ver eu entrando como aluno na universidade onde eu fiz o chão junto com ele dez anos antes. Minha mãe tem muito orgulho de mim por eu ter entrado. Tenho certeza de que meu pai teria também. Foi ele quem me ajudou a construir tudo isso”, diz.
Elcimar agora quer fazer pós-graduação para dar aulas. “É uma das coisas que mais me deixa feliz.
“Quero transmitir o meu conhecimento desse jeito mais leve e mais alegre”, concluiu.